quinta-feira, 10 de abril de 2014

O Marco....



A primeira visita de José Xavier, cientista, à EB1 de Febres, aconteceu no âmbito de um projecto do Instituto do Mar da Universidade de Coimbra que pretende levar a ciência e o trabalho dos investigadores às escolas. “Por um lado damos a conhecer o nosso trabalho, por outro, obriga-nos a melhorar consideravelmente a nossa capacidade de comunicação, a forma como comunicamos ciência para um público tão específico”, explica. Para o investigador, é muito mais fácil comunicar em conferências, entre os seus pares. As crianças são um público bastante mais difícil, no sentido em que é preciso adequar a nossa mensagem aos conhecimentos e conceitos que elas conseguem compreender. No fundo, é “trocar por miúdos” aquilo que muitos “graúdos” não conseguem, eles próprios, assimilar.
“Neste caso estamos a demonstrar o que é ser cientista polar, estamos a tentar estimular o seu interesse pelo conhecimento e pela ciência em geral. Importante é que percebam que a ciência é fundamental”, considera. Na EB1 de Febres (e no Agrupamento “Finisterra”) José Xavier confessa ter encontrado uma equipa de docentes muito empenhada e interessada, e um entusiasmo pouco comum nos alunos. “Por isso foi surgindo uma ligação que me tem feito vir a Febres todos os anos. Hoje já nem falo só do que é ser cientista, já podemos abordar temas mais específicos sempre ligados ao programa curricular das crianças”.
Foi numa dessas visitas à EB1 de Febres que José Xavier foi desafiado pelo pequeno Marco, aluno do 1.º ano. A situação foi de tal forma marcante para o cientista, que prometeu a si mesmo arranjar uma forma de surpreender o menino quando regressasse a Febres. “Antes da hora de almoço o Marco olhou para mim, olhos esbugalhados e bola na mão, e desafiou-me para ir jogar à bola com ele. No meio daquela confusão, com dezenas de alunos de um lado para o outro, pensei, ‘pára tudo, temos que ir jogar à bola’”, recorda. O jogo durou meia dúzia de minutos e, no final, o Marco estava naturalmente triste por perder o seu companheiro de brincadeira. “Durante a tarde estava sempre a espreitar, a ver se me apanhava para mais uma dose de bola, mas não houve tempo. Na hora de irmos embora, o Marco começou a chorar. Desde esse momento assumi a missão de arranjar uma forma de ele não ficar triste”.
Surgiu, então, a ideia de oferecer uma bola de futebol ao Marco na próxima visita a Febres. Mas não seria uma bola qualquer, teria que ter uma característica especial: “Na altura da Páscoa estava a participar num workshop internacional em que participaram professores e cientistas de diversos países, e consegui que todos assinassem a bola. Acharam imensa graça à história do menino de Febres e quiseram colaborar”, conta. Dia 13 de Maio foi a data escolhida para entregar a bola ao Marco. Mas José Xavier trazia uma outra surpresa na “bagagem”: uma camisola oficial do clube de futebol favorito do Marco – o Benfica. “Apesar de ter sido a atitude do Marco que esteve na origem desta oferta, julgo que a bola deve ser oferecida à escola, para que todas as crianças possam usufruir dela e saber o que ela representa. O Marco foi a razão de tudo isto acontecer, mas a partilha é fundamental”.
Depois de uma aula sobre biodiversidade, em que alunos do terceiro ano apresentaram alguns trabalhos aos colegas e José Xavier falou, também, sobre o tema, a expectativa era grande. As crianças sabiam que estava reservada uma “surpresa” para o fim da manhã e não escondiam o entusiasmo. No pátio da Escola, junto ao campo de futebol, Marco recebeu a bola das mãos do investigador. O sorriso que lhe iluminava o rosto era o mais sincero testemunho da felicidade e alegria que enchiam o seu coração. Por entre palmas dos colegas, o pequeno recebeu, ainda, a camisola do seu clube. Vestiu-a de imediato e aquele sorriso, tão puro e inocente, não mais saiu dos seus lábios. “É um gesto simbólico, uma prova de que acreditamos no Marco, de que confiamos no potencial que ele tem. É um menino reguila, mas está nas nossas mãos canalizar a sua energia e coragem para os caminhos adequados”. Afinal, é nas crianças que depositamos a esperança de um futuro melhor, e é com carinho e amor que alcançaremos esse objectivo.
Autor: Redacção (Filipa do Carmo) do Jornal Aurinegra

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