domingo, 9 de agosto de 2009

Podemos salvar o albatroz viajeiro?| Can we save the Wandering albatross?

A escrever a partir de Bird Island, Geórgia do Sul
Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctic)

















(Um avião? Não, um albatroz viajeiro Diomedea exulans| A plane? no, just a Wandering albatross Diomedea exulans over me)

Esta pergunta é uma das primeiras questões que nos vêm á cabeça...“o que são albatrozes viajeiros e porque razão estão eles em vias de extinção?"

Os albatrozes viajeiros são das maiores aves marinhas do mundo (podem chegar aos 3 metros de asa a asa), e literalmente passam toda a sua vida no mar. A única excepção a esse estilo de vida é quando têm de se reproduzir, o que acontece em cada 2 anos para eles. Ou seja, o macho e a fêmea só se veem de 2 em 2 anos! Se os albatrozes falassem, a palavra “saudade” teria sido inventado por eles.





















(eles podem ser deeeeste tamanho!!!| They can be thiiiiiis big!!!!)

Na sua grande maioria reproduzem-se em ilhas, como o caso de Bird Island, onde estou.


Na primeira vez que lá fui, em 1999, eu julgava ser o primeiro português a estudar albatrozes, mas cheguei 500 anos tarde demais. Quando os navegadores portugueses se aventuraram pelas costas de África pela primeira vez, encontraram umas aves marinhas de grandes dimensões, pretas e brancas, às quais chamaram “alcatrazes”, que nos séc. XV e XVI significaria grande ave marinha; mais tarde, os navegadores ingleses corromperam esta palavra para “albatross”. Estou a estudar aspectos da sua ecologia comportamental e conservação, algo que não poderia ser feito há 500 anos, e que poderá contribuir para os salvar da extinção. Isto fez-me sentir melhor…


















(Um pai a relaxar durante o Inverno| A dad relaxing during the Winter)


O modo de trabalhar com os albatrozes viajeiros transmite-se nesta pequena história abaixo...

José, um albatroz acabou de chegar! disse Dafydd, um colega biólogo marinho, a entrar em pânico à medida que o rádio receptor captava o sinal. Já tínhamos feito esta rotina muitas vezes, mas os nossos corações sempre aceleravam com a adrenalina quando um albatroz regressava a Bird Island, após uma longa viagem. Em segundos, pusemos as cinco camadas de roupa, emergimos da nossa base para um ar cortante a -10 °C, colocámos os skis e dirigimo-nos para a colónia, monte acima, onde albatrozes se têm reproduzido durante séculos.

















(Um albatross viajeiro para mais uma das suas viagens| A Wandering albatroz starting another foraging trip)

Apesar de ter feito este trajecto muitas vezes, sempre o vi como mais um passo para a realização do meu sonho, fazer ciência numa ilha remota e, mais importante ainda, contribuir para a conservação destas aves marinhas fascinantes. Os albatrozes são as maiores aves marinhas do mundo, podendo chegar aos três metros de asa a asa, reproduzindo-se cada dois anos na Geórgia do Sul. Depois de criarem o seu filhote, os albatrozes fazem uma viagem única no reino animal em torno da Antárctida, pela Austrália, pelo Oceano Índico e regressando à Geórgia do Sul pelo Oceano Pacífico. Neste momento, eles estão aqui e eu rodeado por eles. Dafydd e eu chegámos ao topo do monte e identificámos imediatamente o albatroz com que estávamos a trabalhar, com mais do dobro da minha idade. Estava mesmo junto ao ninho, onde o seu filhote o chamava.




















(A curiosidade nota-se tão bem nos seus olhos| Their curious look is obvious)


A maioria destas aves marinhas nunca viu um ser humano antes. Olham para os humanos com curiosidade e, se nos aproximarmos, não fogem. Depois de capturar esta ave de 12 kg, identificada como BL07 pelo anel que se encontrava na sua perna, e posto confortavelmente no colo do Dafydd, eu recuperei o aparelho de rastreio via satélite que se encontrava nas suas costas.
























(este pequeno aparelho GPS de 20 g, usados este ano, diz-nos onde o albatroz tem andado à procura de comida| This small GPS device (20 g) tell us where the albatross has been foraging)

Enquanto o albatroz se encontrava no mar, o aparelho enviou sinais para um satélite, que nos informava onde o albatroz se encontrava geograficamente. Todos os dias, recebi um e-mail a dizer onde o albatroz tinha estado, algumas vezes tão distante como o Brasil, uns milhares de quilómetros a norte. Uma das suas viagens pode demorar 50 dias. Daí ter exclamado numerosas vezes, com um sorriso estampado na cara, para os meus colegas na base “o albatroz está a caminho de casa, deve chegar amanhã!” Com esta informação, poderei responder a questões a que a comunidade científica debate há muito tempo, tais como onde os albatrozes se alimentam, de que se alimentam e como podem ser afectados pela pesca comercial. Neste momento, os albatrozes estão em vias de extinção. As fêmeas são apanhadas frequentemente pelos anzóis da pesca do palangre, atraídas pelo isco, que opera nas águas da América do Sul, enquanto os machos são ameaçados pela pesca costeira na Geórgia do Sul, ao pé da sua colónia.











(Uma viagem (a vermelho) ao sul do Brazil demora uma semana para eles; o circulo preto é para mostrar como interagem com currentes oceânicas, neste caso a frente sub-Antárctica (SAF)|A trip (in red) to the South of Brazil takes um to a week; the balck circle is to show how they interact with oceanic fronts, in this case the sub-Antarctic Front (SAF))


Para ajudar na conservação destes animais magníficos, o meu trabalho faz parte de vários programas internacionais cientificos para as regiões polares. Eu estou a fazer ciência que directa ou indirectamente vão ser usados para compreendeer melhor os comportamentos dos albatrozes, e sugerir maneiras de minimizar a sua mortalidade. Por exemplo, estudos já desenvolvidos mostraram que, ao usar-se linhas de anzol mais pesadas, estas afundam mais rapidamente imposibilitando os albatrosses de apanharem o isco. Outro exemplo, é o colocar os anzois só à noite, de modo aos albatrozes terem mais dificuldfade em verem os iscos. Estas são duas medias simples, mas extremamente benéficas, que puderão ajudar os albatrosses.


Espero que, daqui a 500 anos, quando os meus descendentes vierem à Geórgia do Sul, também eles tenham a oportunidade de ver albatrozes e que sintam o privilégio e a felicidade de estar aqui... tal como eu.



The wandering albatross Diomedea exulans is facing extinction. I thought I was the first Portuguese to study Wandering albatrosses but I was five hundred years too late. When fifteenth-century Portuguese sailors first ventured down the coast of Africa, they encountered large black and white birds with stout bodies, which they called alcatraz, the Portuguese word for large seabirds; English sailors later corrupted alcatraz to albatross. I was studying aspects of their diet and feeding behaviour in ways that could not be done five hundred years ago, information which may help save them from extinction. They are the biggest seabirds in the world, with a wing span of more than 3 metres. They can travel thousands of km and now we are deploying small devices to understand where they have been foraging (and potentially interacting with fishing vessels; wandering albatrosses are attracted to longline baited longline hooks and might get caught and drown). This is one of its main reasons for the declining of their populations worlwide. We are trying to help...

5 comentários:

Fatima disse...

José obrigada por mais esta lição!
Daqui a 500 anos conversamos de novo sobre o assunto...

Jose Xavier disse...

O prazer é todo meu Fátima!!!!

Beijinhos

José

Lauro Garcia disse...

Há um mês atrás vi na Praia da Barra do Jucu - Vila Velha-Es, um albatroz, que por incrivel que pareça, foi a primeira vz na minha vida que avistei uma linda ave marinha, voando solitário. Mostrei para os meus três filhos que era uma ave rara na costa cabixaba, eles ficaram encantados pelo seu voo magnifico. Abração

Lauro Garcia disse...

Todas as pessoas que são amantes da natureza e do meio ambiente devemos por obrigação ajudar a preservar o nosso ecossistema de um modo geral, para que no futuro nossos filhos e netos possam usufluir de tudo que a natureza nos oferece de bom desse planeta chamado Terra. Abração para todos!

Cynthia Ranieri disse...

Olá José!
Sou educadora ambiental do Projeto Albatroz aqui no Brasil! Pesquisando na internet achei seu blog...e vi muitas coisas interessantes! Gostaria de deixar nosso contato, para trocarmos ideias sobre estas aves tão fantásticas! Nosso site está em manutenção (www.projetoalbatroz.org.br), mas temos uma página no facebook (www.facebook.com/pages/Projeto-Albatroz/202478849806610)...tb temos twitter e um blog! (projetoalbatroz.blogspot.com)
Espero poder conhece-lo um dia!
Grande abraço
Cynthia Ranieri
cranieri@projetoalbatroz.org.br